É a segunda vez que leio Dôra, Doralina, de Raquel de Queiroz, e claro, foi uma nova leitura. Dessa vez observei mais atentamente questões que nem passavam por mim na época que li, como, por exemplo, as transgressões em relação aos papéis femininos.
Sei que muitos leitores têm receio com os clássicos, uns devido à linguagem, outros devido aos temas abordados. Dôra, Doralina tem uma linguagem acessível, fluida, com temáticas interessantes. A narrativa é organizada em três livros. O primeiro é ambientado no sertão cearense, na fazenda Soledade, localizada no fictício município de Aroeiras.
O que chama atenção nessa parte é a relação da Dôra com a mãe, a Senhora. É um relacionamento marcado por frieza, mágoa e concorrência. Dôra se casa com Laurindo. Um casamento nada saudável.
O segundo livro traz os relatos de suas aventuras com a Companhia de Comédias e Burletas Brandini Filho. Dôra vai viver em Fortaleza e passa a conviver com atores de teatro e acaba se tornando atriz da Companhia, viajando pelo país. Em uma dessas viagens conhece o Comandante Asmodeu, que se tornará tema do terceiro e último livro.
O que torna Dôra uma personagem interessante é que ela é um espírito inquieto, sempre desafiando a ordem. Ela se recusa a pedir a bênção da mãe; ela abriga um desconhecido; não se veste de viúva; torna-se atriz; vive junta com o Comandante.
Dôra Doralina e o papel social imposto às mulheres:
Dôra Doralina na cabe no papel que a sociedade patriarcal determinou para uma filha de fazendeiro do sertão cearense.
O terceiro livro, que trata da relação de Dôra como o Comandante, parece que há um retrocesso, uma vez que Dôra para de trabalhar e vai viver para servir o Comandante. Mas é uma escolha dela.
Não posso deixar de pontuar que é uma narrativa que escorrega muito no discurso machista e racista. Um exemplo do que estou falando pode ser observado no quote abaixo
“– deixasse ele ver que eu, eu pelo menos, não era negra de ninguém”
Claro, era uma mulher escrevendo, mas era uma mulher branca. Raquel de Queiroz foi uma mulher contraditória nas suas concepções política-ideológicas, se definia como não feminista.
Você já leu algum livro dela? O mais conhecido é O Quinze.
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