Festim das 12 Cadeiras traz como mote, para traçar a crítica social, a reunião de personagens em uma festa dada pelo casal homossexual Laerte e Carlão. O casal é extremamente rico e essa festa já se tornou uma tradição. Todos os anos, são convidados 10 pessoas, mas, ao longo do tempo, algumas são excluídas da lista e novos convidados entram. O fato é que ninguém quer ser excluído da tal festa.
A grande novidade deste ano é que o casal comprou um conjunto de cadeiras russas, mas perceberam que em uma das cadeiras havia um tesouro (joias). Como já são muito ricos, decidiram que o tesouro será destinado a um dos convidados, especificamente aquele que for mais humilde, ou seja, quem se sentar por último no jantar.
O problema é que as coisas nunca saem como planejado. A imprevisibilidade da vida e o acaso tornam difícil controlar todas as variáveis.
O Festim das 12 Cadeiras é baseado no conto russo 12 Cadeiras, de Ilf e Petrov, e também no filme Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock. Eu não conheço nenhuma das duas obras; talvez por isso eu não tenha me conectado tanto com o livro.
A narrativa inicia com a preparação da festa, a chegada das cadeiras e a descoberta do tesouro, além da ideia de que um convidado deverá ganhar o prêmio.
Nessa primeira parte do livro, conhecemos o casal Laerte e Carlão. Acredito que foi traçado um perfil caricaturado de Carlão, enquanto Laerte é quem mais aparece na narrativa.
Laerte também é o personagem mais interessante, pois a narrativa revisita seu passado, quando ainda era criança. O leitor consegue perceber que, desde pequeno, ele é perspicaz e conhecedor da natureza humana. Foi a partir de uma ideia de sua infância que sua família conseguiu enriquecer.
O festim das 12 cadeiras: conflitos inesperados
A narrativa segue apresentando os convidados. A mais famosa de todos é Dolores, uma personagem sem papas na língua, que tem duas irmãs também convidadas para a festa. Nessa parte do livro, o narrador enfatiza, principalmente, o peso de uma das irmãs e as necessidades sexuais de outra.
Eu não teria me incomodado com uma personagem feminina gorda se, mais adiante, não aparecesse outra personagem também gorda. Mas, veja bem, não há personagens masculinos gordos, assim como não há personagens masculinos com problemas sexuais.
Ainda há outros personagens: o padre, os dois irmãos, o jovem casal excêntrico e o detetive. No entanto, os vizinhos também se destacam. A mulher do vizinho é mais uma personagem gorda, com descrições bastante ácidas.
O festim das 12 cadeiras aborda diversos pontos de discussão social: homossexualidade, sexualidade, religião. Contudo, a impressão que tive é que, em alguns momentos, o livro reforça estereótipos ao invés de fazer o leitor refletir sobre eles. Isso me deixou confusa, principalmente em relação ao perfil da mulher. Reconheço, porém, que há uma tentativa de apresentar personagens marginais, mas isso se evidencia mais na linguagem do que no desenvolvimento dos personagens.
O ponto alto do livro são as referências ao cinema, às séries e à cultura popular. O Festim das 12 Cadeiras é um livro controverso, mas talvez essa seja exatamente a intenção.
Festim das 12 cadeiras
Elvis Delbagno
Editora: Schoba
Número de Páginas: 163
Ano: 2015
Avaliação: ★★★
Sinopse: Ao comprar um conjunto de 12 cadeiras russas para o jantar anual, um casal homossexual descobre um tesouro embaixo do estofado de uma delas. Com as contas bancárias transbordando, os milionários resolvem manter o tesouro na cadeira e doá-lo ao primeiro convidado que se sentar nela. No entanto, eles percebem que isso será um problema quando um dos convidados não comparece ao jantar. Estruturando-se nas comédias de costumes, nos deparamos com uma crítica social de um humor ácido extravasante dos diálogos preconceituosos dos personagens mais bizarros que poderiam surgir numa sociedade cheia de interesses. Narrado de forma corrida como um roteiro cinematográfico e com diversas referências à cultura popular, o autor traça uma paródia ao clássico conto russo 12 cadeiras, de Ilf and Petrov, e ao filme Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock.