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[Resenha] Memória de minhas putas tristes

por Nilda de Souza

Quando Gabriel García Márquez faleceu, ano passado (2014), eu corri para comprar algumas obras. Acho que várias pessoas fizeram o mesmo, pois Cem anos de solidão estava esgotado. Bom, mas comprei Memória de minhas putas tristes e O amor nos tempos do cólera, livros que há muito tempo eu queria ler.

Hoje eu vou fala de Memória de minhas putas tristes, Editora Record. O livro traz a história de um velho jornalista, que no dia do aniversário de seus noventa anos resolve se dar de presente uma noite de amor com uma adolescente virgem.

“Naquela noite descobri o prazer inverossímil de contemplar, sem angústias do desejo e os estorvos do pudor, o corpo de uma mulher adormecida.”

[p.35]

A história é narrada na perspectiva do jornalista. Pela a voz do personagem-narrador ficamos sabendo que ele viveu toda a vida sozinho na casa dos pais, numa cidade colombiana. Tentou ficar noivo uma vez, mas acabou fugindo no dia do compromisso.

Aos noventa anos se diz cansado de frequentar salas de concerto para ouvir virtuoses europeus e enviar ao Diário de La Paz sua crônica dominical.

O jornalista nunca casou, mas foi frequentador assíduo de bordéis. Na no dia de seu aniversário combina com a cafetina Rosa Cabarcas, dona de uma casa de prostituição que costumava frequentar, o encontro com a virgem cobiçada.

Na calada da noite, dirige-se ao prostíbulo e se deita ao lado da jovem de 15 anos, que está dormindo.

A partir dessa noite acompanhamos a construção de uma relação que ocorre mais no plano da contemplação.  Todas as noites o velho jornalista encontra sua jovem virgem sempre adormecida e ele se põe a contemplá-la.

Bom, ao ler Memória de minhas putas tristes não tem com não fazermos uma reflexão sobre um tema polêmico: um adulto se relacionando com uma menor de idade. Como você deve ter observado no resumo, a jovem virgem tinha apenas 15 anos. Nesse ponto, a obra nos leva por várias possibilidades de leituras.

O livro nos remete a uma obra muito polêmica, o romance Lolita, escrito por Vladimir Nabokov. Claro, Lolita vai mais fundo, abordando outros temas – valores da família, a promiscuidade, o incesto, além da pedofilia.

Para mim, o que mais me tocou em Memória de minhas putas tristes foi os temas da impossibilidade de completude e da relação (ou da não relação) entre amor e gozo.

Para o personagem-narrador a felicidade, em sua juventude, era sexo sem compromisso. Já na velhice, ele percebe que faltou algo em sua vida. A felicidade, agora, não é sinônimo de completar-se com o sexo.

Acompanhamos o nascimento de um amor cortês, a ponto do velho jornalista não querer tocar a amada. Pois o amor cortês exclui, por estrutura, o gozo sexual.

O livro é maravilhoso. Podemos perceber claramente a passagem do desejo carnal para um amor sublime. Eu recomendo a todos.

 

 

Ficha Técnica
Livro: Memória de minhas putas tristes
Autor: Gabriel García Márquez
Gênero: Romance estrangeiro
Páginas: 128
Editora: Record
Comprar: Saraiva, Cultura, Submarino

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