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Resenha de Fragmentados | Neal Shusterman

por Nilda de Souza

Fragmentados é um livro distópico, lançamento da Editora Novo Conceito, primeiro volume de uma série de mesmo nome, com quatro livros e um intermediário. Eu estava super ansiosa para conferir essa leitura, pois o gênero distópico é um dos meus preferidos. Além disso, o livro aborda um tema atual e muito polêmico: o aborto, direitos reprodutivos.

Em Fragmentos, não temos um super vírus que, geralmente, mata metade da humanidade. Ou algo oculto que só será revelado ao longo da narrativa.  Não, nada disso. Mas houve uma guerra, sim, chamada de Segunda Guerra Civil, popularmente conhecida como Guerra de Heartland.

 Essa guerra foi decorrente de problemas relacionados ao fato das pessoas não discernir o que era certo e o que era errado em relação à vida humana, os direitos reprodutivos. Então, iniciou-se uma guerra com duas ideologias em conflito: os Pró-Vida e Pró-Escolha. Também havia um terceiro grupo que tentou conciliar os dois primeiros. Foi este terceiro grupo que propôs uma série de emendas constitucionais chamada de Lei da Vida.

 As pessoas aceitaram essa lei maluca, que é nada mais, nada menos do que fragmentar jovens problemáticos entre a idade de 13 aos 18. A lei protege as crianças até os 13, depois disso, se os pais acharem que essa criança não tem condição de se ajustar à sociedade, é só assinar o termo de fragmentação. Um aborto retroativo.

Ninguém sabe como acontece. Ninguém sabe como é feita. A colheita dos fragmentários é um ritual médico secreto que fica confinado às paredes da cada clínica de colheita da nação.

Mas as coisas não terminam aí. Existe ainda a Iniciativa da Cegonha. Há também crianças abandonadas e acolhidas nas chamadas Casas Estaduais. Para complicar mais as coisas, ainda existem as Crianças Dízimos.

O terror em Fragmentados

Pois é, a barbárie do sacrifício humano aqui tem o nome de dízimo. Agora que falei um pouco sobre o contexto desse mundo distópico, vemos então conhecer os três protagonistas de Fragmentados: Connor, Risa e Lev.

 Os três devem ser fragmentos, mas por motivos diferentes. Connor, o jovem problemático; Risa, a órfã de uma Casa Estadual; Lev, o dízimo. A vida dos três se cruza, coincidentemente na hora da fuga.

 Connor e Risa sabem o que querem: fugir até completar 18 anos. Já Lev foi criado para se sacrificar. Ele acha que ser dízimo é a coisa certa a se fazer. Bom, pelo menos achava até o pastor mandá-lo fugir.

 Bom, não vou falar mais, pois vou acabar contando além do que deveria. Como já falei antes, Fragmentados tem uma narrativa atual e polêmica. Narrado em terceira pessoa, com o foco nos três personagens principais. Mas o narrador também focaliza a vida de outros personagens secundários, importantes na história.

 Essa opção narrativa funcionou muito bem, pois podemos, por exemplo, acompanhar as questões religiosas por trás da vida do personagem Lev, quando o foco está na vida.

 É triste, das relações familiares dos fragmentados, nenhum apareceu para se colocar ao lado dos jovens. Por isso é tão revoltante pensar nesses pais. As pessoas passam a acreditar que é justo transplantar todas as partes de um jovem, vivo e saudável, sem lhe dar o direito de defesa.

 Outro ponto muito importante da discussão é que, podemos ver que é tudo um grande vira. As clínicas de fragmentação/colheita são, na verdade, um lucrativo negócio. A tal da preocupação em torno da vida é de uma hipocrisia.

Você não pode mudar as leis antes de mudar a natureza humana. – Enfermeira Greta.

Você não pode mudar a natureza humana antes de mudar a lei. – Enfermeira Yvonne.

 Neal Shusterman nos presenteia com uma narrativa com aspectos fluidos, pois o narrador não ambienta o leitor em relação à época ou tempo dos fatos. Só sabemos que as ações se passam num futuro, onde houve evolução científica e tecnológica. Por exemplo, a transmissão de energia não ocorre mais por fios e cabos.

 O mundo distópico criado pelo autor, consegue nos prender porque é muito real, próximo do nosso. Além disso, temos a ciência como fonte de terror, a principal causa do medo e da discussão ética. Mas, ao mesmo tempo, a gente vê que a ciência alcançou um patamar de desenvolvimento, ao ponto de fazer transplante do cérebro e que isso é maravilhoso.

Fragmentados é, sem dúvida, uma leitura empolgante. Com ótimas discussões em relação à ideologia, à região e à ciência. Além dos temas amizade, generosidade e amor.

Assista o Book thailer. É perturbador.

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