Esse texto não é bem uma resenha, mas um comentário sobre livros. Hoje, quero indicar Contos de fadas, edição bolso de luxo da Editora Zahar. Começo dizendo que a edição é linda, com belíssimas ilustrações (confira nas fotos).
Foi ótimo reler os já conhecidos contos clássicos. Com apresentação de Ana Maria Machado, uma autora referência no Brasil em literatura infantil, Contos de fadas vale tanto pelos contos quanto pela apresentação.
A obra reúne 20 contos de diferentes autores, incluindo:
- Charles Perrault: “Cinderela ou O sapatinho de vidro”, “Pele de Asno”, “O gato de botas ou O Mestre Gato”, “O pequeno polegar”, “Chapeuzinho Vermelho” e “Barba Azul”.
- Jeanne-Marie Leprince de Beaumont: “A Bela e a Fera”.
- Jacob e Wilhelm Grimm: “A Bela Adormecida”, “Branca de Neve”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Rapunzel”, “João e Maria”.
- Hans Christian Andersen: “A roupa nova do imperador”, “O patinho feio”, “A pequena vendedora de fósforos”, “A pequena sereia” e “A princesa e a ervilha”.
- Joseph Jacobs: “João e o pé de feijão” e “A história dos três porquinhos”.
- Um conto anônimo: “A história dos três ursos”.
Hoje, quero falar especificamente do conto A Bela Adormecida. Em março, li Enquanto Bela dormia (resenha aqui), de Elizabeth Blackwell, publicado pela Editora Arqueiro, e gostei da releitura. O livro apresenta pontos interessantes e um final que se afasta do previsível.
Contos de fadas: releitura
Na narrativa de Blackwell, a tia do rei, Millicent, que cobiça o trono, representa a figura da feiticeira malvada. Também está presente o objeto proibido, o fuso, que Rosa (a Bela) poderia tocar e, assim, cumprir a maldição, como no conto original.
Existem outras características que aproximam as duas histórias, mas por ora, vamos nos concentrar nessas, que são pontos interessantes a serem observados numa leitura que considera o lúdico como ferramenta essencial para despertar a imaginação e a criatividade. Além disso, é interessante notar que os contos de fadas são objetos de estudo da psicanálise, que oferece outras interpretações. Para essa área, os contos estão ligados a ritos de passagem, ajudando as crianças a lidar com o presente e preparando-as para o futuro.
Sob a perspectiva psicanalítica, os contos compartilham características em comum. Por exemplo, geralmente há um objeto proibido; no caso de “A Bela Adormecida”, esse objeto é o fuso. A princesa, ao furar o dedo, poderia simbolizar a menstruação.
Os heróis e heroínas frequentemente são órfãos de pais (os heróis) ou de mães (as heroínas), vítimas do ciúme de madrastas, padrastos ou irmãos mais velhos. Esses elementos estão relacionados ao desenvolvimento pessoal das crianças, ao crescimento do corpo e à transição da infância para a adolescência.
Não vou me aprofundar no tema da psicanálise e contos de fadas, pois precisaria de mais estudos. Mas, se você ficou interessado, recomendo o livro Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida, de Marilena Chauí, publicado pela Editora Brasiliense, que aborda todas essas questões.
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