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Resenha || Grito | Godofredo de Oliveira Neto | Record

por Joanice Oliveira

Grito é um livro de uma mesclagem esplêndida entre Literatura e Teatro, na qual o leitor é levado a conhecer os dizeres categóricos e melancólicos de Goethe, Valéry, Skakespeare e Machado de Assis.

Eugênia é uma senhora de oitenta anos que dedicou mais da metade de sua vida ao teatro e tem uma paixão platônica pelo grande escritor alemão Goethe e escreve peças juntamente com seu pupilo Fausto com fundamentação dos escritos do alemão. Ela sempre está recitando trechos de textos de Valéry e Goethe, porque são ícones para seus trabalhos teatrais e é uma dos atrativos que chamam atenção do jovem Fausto na
sua “irmãzinha” Eugênia.

Fausto mora perto de sua “musa” do teatro e vira e meche está no seu apartamento para criação e construção de peças teatrais que os dois fazem para serem encenadas pelos dois ali mesmo ou no apartamento do iniciante na arte da dramaturgia. O jovem tem 19 anos e é dono de uma beleza negra exuberante e gritante que chama a atenção de qualquer mulher por onde passa e facilita sua entrada no mundo das encenações e “glamour”.

  “Para uma veterana do mundo teatral como eu, é extremamente gratificante ver um jovem buscando na arte um sentido na vida. Queria que isso acontecesse com mais frequência no mundo de hoje.”

Aos oitenta anos, Eugênia ver-se encantada por um rapazoide misterioso que esconde sua vida pessoal a sete chaves e sente-se ferido e acuado quando questionado sobre seu passado e família. Pedira a sua musa que nunca perguntasse pelo que deixou para trás quando desembarcou no Rio de Janeiro. O que importava era o agora. Isso nunca foi problema para a senhora que o via como seu “amante” exclusivo.

São vinte e um atos que encantam os leitores, porque Eugênia é uma mulher culta, divertida e sábia e que viu em Fausto um reflexo de seu passado glorioso e trabalhoso no teatro e sempre está ajudando-o em tudo, mas sente um ciúme doentio por ele que a faz ficar em alerta com as mulheres que aparecem com o jovem e despertam um desespero e um sinal de alerta nela.

Fausto é um homem forte e sonhador. Tem desejo incessante de alcançar o topo da profissão e ao lado de Eugênia vê a oportunidade de conseguir conhecimento e influência para galgar papéis melhores, assim ganhando destaque e notoriedade numa profissão ainda vista como marginal no Brasil e que obriga as profissões a aceitarem “qualquer coisa” para ganharem seu sustento diário.

A loucura e a insanidade são os dois contrastes que permeiam a personagem Eugênia que vaga no limiar de estar apaixonada ou não por seu “Fausto” ou se apenas foi afetada pela companhia constante do jovem que arrancou dela a solidão que antes vivia. Ela não percebia que era controlada por alguns problemas psicológicos que já governavam suas tomadas de decisões e que dão o toque realista e inesperado no final do livro.

O autor denuncia mazelas da profissão de ator e atriz no Brasil que ainda enfrenta dilemas como o preconceito das pessoas verem que trabalha com a Arte é um trabalho como qualquer outro. Discute como se tivéssemos De frente com Gabi sobre o amor e a paixão na fase que a personagem Eugênia se encontra.

Prepare-se para um bate-papo gostoso e muito produtivo com Goethe, Valéry, Machado de Assis e Skakespeare que são autores citados em todo decorrer do livro, que parece evocar a presença real deles, que saímos como se tivéssemos sido abençoado pelos mesmos.

A capa traz referência artística gritante e traduz a essencialidade da obra que tem um enredo incomum, mas original e convidativo que termina nos agraciando com textos conhecidíssimos misturados com a trivialidade do cotidiano.

Grito
Godofredo de Oliveira Neto
Gênero:
Teatro/Contos
Editora: Record
Ano: 2016
N° de Páginas: 157
Avaliação: ★★★★★
Sinopse:

Construído de forma que a performance e a teatralidade ocupem um lugar central, Grito é o epílogo da octogenária Eugênia e sua relação com o jovem e ambicioso Fausto. Em 21 atos, a narrativa é marcada pelo embate entre as esferas do real e do imaginário. Godofredo de Oliveira Neto experimenta formatos e problematiza a linguagem, conduzindo a partir da perspectiva da ex-atriz de teatro uma trama que transita entre o mundo da criação e da encenação.

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