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Resenha || O conto da Aia | Margaret Atwood

por Nilda de Souza

O Conto da Aia é assustadoramente verossímil. Uma história possível. Parece real. De alguma forma estamos vivendo essa história. Acho que a mulher sempre viveu em uma sociedade distópica (exageros à parte), onde somos silenciadas, assassinas, estrupadas, culpabilizadas.

O momento político atual não é um dos melhores para nós, mulheres. Direitos conquistados a duras penas estão sendo caçados. Tenho verdadeiro pavor quando políticos ou lideres religiosos fundamentalistas falam de valores, família e Deus numa mesma frase.

Dito isso:
Você já deve ter lido, assistido ou ouvido falar de O Conto da Aia. Esse livro voltou às rodas de conversas graças a adaptação da série de tv The Handmaid’s Tale, encomendada pelo serviço streaming Hulu.

A narrativa é sobre uma sociedade onde todos os direitos das mulheres foram caçados. A ambientação é num Estados Unidos ditatorial fundamentalista chamado Republica de Gilead. Nesse regime as tecnologia não exitem mais. Não há jornais, nem revistas. Não há filmes. A comida é escassa. Essa sociedade voltou em um período quase que medieval.

Uma sociedade misógina

Nessa sociedade, as mulheres foram dividas em castas. As esposas – administram a casa; as Marthas – fazem os serviços domésticos; as Tias – são mulheres que educam outras mulheres na idade fértil para serem Aias. As Aias – servem para ter filhos, que serão criados pelas esposas. Há ainda mulheres que não têm mais serventia. Essas são enviadas para colônias, para fazer trabalhos degradantes.

O livro é narrado por Offred, uma Aia, por isso acabamos sabendo mais detalhes da vida das mulheres Aias. Elas não podem ler, não podem escrever, não podem trabalhar. Só podem falar se lhes perguntarem algo. Elas só servem para um único proposito: reproduzir. Até os nomes originais foram tirados delas, pois Offred quer dizer De Fred. O Sobrenome do dono dela, O Comandate.

Ao longo da narrativa Offred vai revelando detalhes dessa sociedade. Os relatos da Aia alterna entre o passado, quando ela recorda de como era sua vida antes do regime. Ficamos sabendo da filha que lhe foi tirada. Do marido, que ela acha que pode estar morto. Da mãe, de quem ela não tem notícia. Sabemos ainda como foi o período em que ela foi treinada para ser uma Aia.

Já nos relatos do presente, Offred nos conta como é sua rotina. Como é sua interação com as Marthas, com a esposa, com o motorista e com o Comandante, o homem dono da vida de todos naquela casa. Ela tem permissão para sair de casa para fazer comprar domésticas, desde que seja em dupla com outra Aia.

Ao longo da narrativa o leitor vai descobrindo fatos que mostram como as coisas foram caminhando até chagar aquele ponto. As coisas iam acontecendo, mas a grande maioria das pessoas não davam importância. Havia uma inercia social. Não há um relato claro, mas tudo indica que houve algum tipo de contaminação para que a taxa de fertilidade caísse drasticamente. E é nesse cenário que

O Conto da Aia é assustadoramente verossímil

É um livro que provoca reflexões valiosas. Uma narrativa que choca. Para mim foi um impacto muito grande ler o relato do ritual do estrupo da aia, com a participação da esposa. É repulsivo. Creio que todos que leem são tocados de alguma forma, principalmente as mulheres. É um livro que aborda temas atuais: estupro, violação dos direitos civis, fundamentalismo. É terrível, mas a base dessa sociedade, extremamente misógina, tem respaldo bíblico.

Só tem uma coisa que eu preciso dizer: eu achei o estilo da narrativa da Margaret Atwood truncado. Não foi uma leitura ágil. Vou ler outros livros da autora para fazer uma análise quanto a isso.

Últimas palavras: leiam esse livro.

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27 comentários

Beatriz Andrade fevereiro 26, 2018 - 8:41 pm

Oi, Nilda. Eu assisti à série Vulgo Grace e gostei, fiquei curiosa para ler o livro. Tenho visto muitos comentários sobre O Conto da Aia e até agora eu não havia sentido interesse em ler, mas você conseguiu mudar a minha opinião e me interessei. Tenho dificuldade em ler sobre estupro, felizmente comigo nunca aconteceu, mas tenho uma pessoa próxima que foi vítima e as consequências foram e são ainda desastrosas. Sempre que leio uma cena de estupro eu me sinto muito mal, muito mesmo e evito muito ler sobre isso. Recentemente eu li O Jardim das Borboletas e achei a leitura excelente, não chega a relatar os estupros em detalhes, mas os mostra na trama (o livro aborda exatamente esse tema), eu adorei a leitura, já leu esse? Enfim, coloquei O Conto da Aia na lista de próximas compras e espero comprar ainda esse ano e ler.

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Fernanda Santos Barroso fevereiro 26, 2018 - 9:31 pm

Olá!

Nossa, esse parece ser um livro realmente denso e tenso. Não sei se o leria. O tema é interessante, mas por saber que existe cenas de estupro, eu prefiro me abster de imaginar.
Sua resenha ficou muito boa, aliás, deu pra entender bem do que se trata a obra.

Abraços

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Clayci Oliveira fevereiro 27, 2018 - 3:27 pm

Meu contato com a autora foi através da série Alias Grace, mas ainda não tive a oportunidade de ler nenhuma dela. Porém pretendo fazer isto ainda esse ano e começarei por este livro *_*

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Mari fevereiro 27, 2018 - 11:17 pm

É bem verossímil, o que assusta demais. Mas concordo quanto à leitura: realmente, é difícil para fluir, eu estou meio que enroscada no meio do livro.
Beijos
Mari
Pequenos Retalhos

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Nilda de Souza fevereiro 27, 2018 - 11:30 pm

Você também acho que o estilo dela meio que difícil de fluir?!Fico até mais tranquilha. Já estava achando que era só eu.
Todo mundo elogiando a mulher, aí eu digo que o estilo dela é truncado rsrsrs
Beijos

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Alice fevereiro 28, 2018 - 10:15 am

Oiii Nilda

Eu tenho Vulgo Grace da mesma autora aqui pendente pra ler e apesar de estar enrolando sei que cedo ou tarde vou conferir sim ou sim. Se eu gostar da escrita quero ler O Conto de Aia pois acho a proposta toda bem interessante mesmo e só tenho visto elogios em quanto à trama.

Beijos

http://www.derepentenoultimolivro.com

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Nanna fevereiro 28, 2018 - 2:28 pm

Sempre achei esse livro muito interessante, mas confesso que acho pesado e meio que não tenho coragem de ler.

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Ritchelly Galani fevereiro 28, 2018 - 3:15 pm

Olá!estou curiosa desde o lancamento desta edicao. Lendo agora sua resenha descobri que eu nao tinha livro antes, tudo que eu sabia era bem aleatório. Gostei de como

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Ritchelly Galani fevereiro 28, 2018 - 5:48 pm

Olá! Juro que estou super curiosa com essa leitura desde o lançamento mas nunca tinha lido algo tão completo quanto sua resenha. Descobri que o que eu sabia sobre O conto de aia era bem superficial.. Amei saber mais sobre o livro e como a leitura pode ser tão relevante! Agora estou mais que ansiosa para embarcar nesta leitura!!

Beijos,
Conta-se um Livro

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Dayhara Ribeiro Martins fevereiro 28, 2018 - 7:45 pm

Esse é o estilo da autora mesmo, a leitura é demorada sim, mas as vezes ela dá cada tapa na sua cara… Esse livro é uma grande verdade a respeito dos direitos das mulheres e como eles vem sendo manipulados através da politica, é pra pensar quando foi que deixamos de ser seres humanos e nos tornamos apenas encubadoras humanas? Tô louca pela segunda temporada da série.

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Cidália fevereiro 28, 2018 - 8:39 pm

Eu li Vulgo Grace e gostei muito da escrita da autora. Quanto a essa leitura fiquei curiosa para ler, mesmo sabendo, através da sua resenha, que a trama é chocante. Dica anotada! Bjs.

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Lucy fevereiro 28, 2018 - 10:16 pm

Oi, Nilda! Eu comecei a ler esse livro, mas encontrei dificuldades para continuar a leitura justamente por não ser uma narrativa tão fluida, tanto que até dei um tempo para ele. Bom saber que não sou a única. rsrs
Bjos!
Lucy

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Nilda de Souza março 4, 2018 - 10:58 pm

Pois é, eu realmente achei o estilo de linguagem um tanto quanto arrastado.

Beijos

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Estante da Kah março 1, 2018 - 11:05 am

Olá, tudo bem?
Eu nunca tinha ouvido falar desse conto mas me interessei bastante. Gosto de ler coisas que retratam a vida real, como ela é. Infelizmente, coisas ruins também acontece e as vezes, o choque de realidade é grande.

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Cabine de Leitura março 1, 2018 - 11:06 am

Esse livro a algum tempo está na minha lista de desejos, a premissa, apesar de assustadora, é maravilhosa para despertar em nós uma reflexão sobre os temas abordados. Depois quero ver a série, mas vamos por etapas. A resenha está perfeita.

Abraços.

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totalsubie março 1, 2018 - 11:56 am

Nilda de Souza, thanks a lot for the article post.Much thanks again. Fantastic.

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Maria Luíza Lelis março 1, 2018 - 10:15 pm

Oi, tudo bem?
Eu li esse livro ano passado e ainda estou criando coragem para ver a série. As cenas de estupro com a presença da esposa são realmente repulsivas, porém, o que mais me assustou é como alguns dos argumentos usados contra as mulheres naquela sociedade estão próximos na nossa realidade. Quantas vezes não vemos as vítimas de estupro sendo culpabilizadas de alguma forma? Foi essa verossimilhança que mais me assustou e me fez refletir com esse livro.
Confesso que, ao contrário de você, não achei a escrita da autora truncada. Eu tinha a impressão de que esse livro seria uma leitura bem lenta, mas ele acabou fluindo bem para mim.
De qualquer forma, a leitura funciona de maneira diferente para casa leitor e fico feliz que você tenha gostado do livro e adorei ler sua resenha.
Beijos!

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Nilda de Souza março 4, 2018 - 10:57 pm

Você tem toda razão sobre essa questão dos argumentos usados contra nós, mulheres. É assustador, mesmo.
Por isso que eu disse que parece que já vivemos em uma distopia. Os nossos direitos são frágeis. Nossa palavra vale muito pouco.
São sempre as estéricas, as loucas.

Obrigada pelo seu comentários tão enriquecedor.

Beijos

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Sophia Merkauth março 2, 2018 - 11:59 am

Oi, tudo bem?
É a segunda resenha que leio desse livro e estou super curiosa para ler, confesso que conheci a obra pelas resenhas que li e estou encantada com tantos comentários positivos e recomendações! Já está na lista e parabéns pela resenha!

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Camila de Moraes março 3, 2018 - 1:56 pm

Olá!
Por mais que eu leia resenhas maravilhosas sobre essa obra e que ela realmente deve tirar o leitor da zona de conforto pela carga de envolvimento que deixa o leitor, não consigo me sentir atraída pra realizar essa leitura.
Mas gostei de conhecer suas impressões sobre essa leitura.
Beijos!

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Nilda de Souza março 4, 2018 - 10:49 pm

Obrigada pela elogios! Espero que em outro momento consiga realizar a leitura
Beijos

Responder
Thalia Mirelly março 4, 2018 - 9:48 am

Olá!Tudo bem?
Esse foi o primeiro blog que li a resenha de Contos da Aia,eu via as pessoas falando e comentando sobre o livro,mas nunca entrei profundamente para procurar e ler.Sua resenha foi tão bem construida que eu preciso ler esse livro para ontem!
Principalmente por tocar em assuntos tão importantes e mostra uma sociedade onde a mulher não tem nenhum direito.
Super anotado a dica.
AMEI SUA RESENHA!<3
Beijos

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Jennifer Silva março 4, 2018 - 10:35 am

Gentee, que livro intenso e interessante! Eu confesso que não conhecia muito a história dessa obra, mas já tinha visto a capa. A autora aborda muitos temas interessantes e de uma maneira bem realista nessa nova sociedade. A sua resenha está incrível e me deixou com vontade de ir agora mesmo adquirir esse livro haha. Obrigada pela dica, bjss!

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Bruna Costabeber março 4, 2018 - 5:28 pm

Olá Nilda, tudo bem?
Ainda não li esse livro, mas já li muitas resenhas positivas sobre ele e estou muito ansiosa para fazer essa leitura, pois eu gosto da realidade que esse livro traz. Também gostei de saber das reflexões que ele traz, sabe? Eu me imagino lendo esse livro e ficando ávida por cada página que viro.
Dica anotada, sem dúvidas.
Beijos,
http://www.umoceanodehistorias.com/

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Nilda de Souza março 4, 2018 - 10:42 pm

Oi, Bruna!
Espero que goste da leitura tanto quanto eu gostei.
Beijos

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Fábrica dos Convites março 4, 2018 - 10:16 pm

Já ouvi falar do livro, mas não o li ainda. É um livro com um conteúdo forte e atual. Uma pena a leitura não ter sido tão ágil.
Bjs Rose

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Tahis Aguiar março 22, 2018 - 3:55 pm

Olá!
Toda vez que leio resenhas desse livro fico com medo, medo por que as coisas parecem estar se repetindo por aqui, o mundo, as pessoas parecem que estão regredindo cada dia mais, não tendo empatia, não tendo compaixão, achando que tudo é normal. é triste demais! Esse livro vem sendo bem comentado e a cada resenha fico curiosa e receosa pois é chocante. Mas está na lista de desejados e espero poder ler!

beijos!

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