A Natureza da Mordida, de Carla Madeira, é uma daquelas histórias que nos fazem refletir sobre questões profundas da vida, como a possibilidade de romper ciclos de mágoa e buscar a reconciliação.
Você é alguém que acumula ressentimentos ao longo do tempo? Como lida com esses sentimentos? Tem dificuldade em perdoar? E se, de repente, o tempo para o perdão se esgotar? Afinal, a vida frequentemente nos surpreende com sua imprevisibilidade.
Neste livro, Carla Madeira apresenta as histórias entrelaçadas de Olívia, uma jovem jornalista, e Biá, uma psicanalista aposentada que enfrenta o Alzheimer. A narrativa alterna entre as anotações de Biá e os relatos de Olívia, desvendando, aos poucos, as razões por trás das dores e mágoas de ambas.
As protagonistas são confrontadas pelo peso das decisões do passado, refletindo sobre os erros cometidos e as cicatrizes emocionais que carregam. O tempo surge como o grande carrasco na trajetória de ambas, apressando os confrontos e adiando os acertos.
A natureza da mordida explora a complexidade das relações humanas e as diferentes formas de amor — romântico, fraternal e amor-próprio —, examinando como esses sentimentos se manifestam nos momentos de maior vulnerabilidade.
A Natureza da Mordida: culpa e arrependimento
“Esqueça tudo que eu disse e guarde apenas o que vou te dizer agora: não saber nem sempre é o pior lugar.”
Carla Madeira é conhecida por sua escrita poética e intensa, e também por sua habilidade em abordar perdas e sofrimentos sem deixar de lado uma perspectiva de redenção e esperança. No entanto, ler Carla é um desafio: embora sua linguagem seja acessível, os temas que ela traz não oferecem respostas fáceis ou binárias.
Se em Tudo é Rio ela fala sobre violência- filicídio, abordando a possibilidade de redenção (uma escolha que recebeu críticas), em A Natureza da Mordida ela se aprofunda em questões igualmente sensíveis.
A trama investiga o complexo sentimento de um pai em relação à filha, abordando de maneira sutil e aberta a temática do incest0 e, sobretudo, o trauma gerado pela ausência paterna.
“Quando a gente faz o mal, sabe. O mal não é coisa de distraído. Embora a dor a gente possa provocar até dormindo.”
O título de A natureza da mordida, a meu ver, é metafórico tanto à violência explícita quanto à silenciosa, que permeia as relações entre as personagens.
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