Eu Tituba: bruxa negra Salem, da escritora caribenha Maryse Condé, Editora Rosa dos tempos, é uma daquelas leituras que nos esmaga de diferentes formas.
Desde que li O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana [resenha aqui] que fiquei querendo mais de Condé.
Tituba é uma mulher negra, nascida em um contexto de opressão colonial e escravocrata. A narrativa explora diversos temas históricos e sociais: escravidão, racismo, religião, misticismo, opressão, misoginia, liberdade.
Condé dá voz a essa personagem histórica que teve sua história apagada ou retorcida pelos registros oficiais, devido às imposições de raça, gênero e religião.
A vida de Tituba é um sofrer quase que constante, tanto em Barbados quanto em Salem. Sua vida é um reflexo da violência física e psicológica imposta às pessoas negras.
Eu Tituba: escravidão, religião, misticismo, opressão, misoginia
Confesso que questionei a necessidade da personagem de estar com homens. Todos trastes. As mães dela avisaram sobre essa questão: “Os homens não amam. Eles possuem. Eles jugam”. Mas aí me vem a reflexão sobre a solidão da mulher negra. E me dei conta de que estava sendo uma leitora mimada.
Tituba é constantemente oprimida pela misoginia, especialmente pela sociedade puritana. Ela e as outras mulheres enfrentam as dificuldades de viver nessa sociedade, com destaque para a opressão sexual e a falta de autonomia. Claro, ela mil vezes mais.
Outros instrumentos de controle da sociedade branca e puritana são a religião e a bruxaria. A espiritualidade de Tituba, baseada no sincretismo afro-caribenho e nas tradições indígenas, contrasta com o puritanismo rígido dos colonizadores.
Mais uma vez ela poderia agir de forma diferente, mais vingativa, talvez, porém ela se nega. Na minha visão, cheia de privilégios, queria que ela não ajudasse aquelas mulheres e meninas brancas. Elas não mereciam a ajuda de Tituba, com seu conhecimento ancestral de cura.
Tituba é um personagem que ficará comigo para sempre. Ela deseja liberdade, tanto física quanto espiritual. Sua história é memória coletiva dos povos colonizados. Ler Eu, Tituba é dar a ela a liberdade, tanto física quanto espiritual, que tanto almejava.
O prefácio de Conceição Evaristo é primoroso.
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